Homenagem a Maria Adelaide

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Nos últimos 94 anos, a história de Covide, norte de Portugal, bem como a tradicional arte do linho artesanal, confunde-se e mistura-se à de uma mulher, chamada Maria Adelaide Freitas Soares.

Nascida e estabelecida na região, e ainda viva e lúcida, inspiração para todos que um dia tiveram a honra de a conhecer. Com uma frase criada por ela: “Tradição com Inovação”, criou e desenvolveu todo um complexo de artes e ofícios na região, a partir de projectos que beneficiaram centenas de famílias ao longo desses anos. Devido à doença e à fragilidade, seu afastamento da frente dos trabalhos foi inevitável. Desde então, a época de ouro do linho entrou em decadência, até quase a sua extinção.

Uma homenagem a Maria Adelaide foi escrita e entregue em mãos, em forma de uma carta, pela Gestora de Negócios Internacionais Luciana Castelli, Coordenadora da marca “Linho Linho”, que ora se publica:

Eu a conheci numa tarde fria de inverno. Estava acamada, com dores nas pernas, mas não se queixou. Recebeu-me com um brilho nos olhos e um sorriso de céu, tão puro e limpo, desses que a gente vê nas crianças de colo.

Conversamos pela tarde afora, como se sempre tivéssemos sido grandes amigas durante toda uma vida, e o tempo não nos tivesse passado. Minha mente voou no seu relato detalhado da infância, adolescência, juventude e maturidade, de grandes sonhos e experiências vividas.

Eu quase pude sentir o perfume das flores e o toque do vestido branco, com laçarotes e fitas, que a menina Adelaide vestia nos dias de festa, tamanha a riqueza de detalhes dessas narrativas. Encantou-me conhece-la!

Interessante como encontrei resposta a muitas de minhas perguntas a respeito de mim mesma e do meu propósito em estar onde estou e da longa jornada de vida que me trouxe até ela.

Maria Adelaide de Covide. Toda a gente conhece ou já ouviu falar. São noventa e seis anos de uma vida dedicada à comunidade, à valorização da mulher e ao amor ao próximo.

Fui ao seu encontro uma vez mais, após o Natal de 2019. Encontrei-a, desta feita, sentada, em frente a uma mesa, separando alguns papéis e fotos para compor o livro que está a escrever. Muito fragilizada por uma forte gripe e com dores pelo corpo, ainda assim não se queixou. O mesmo sorriso, o mesmo brilho nos olhos e mais uma tarde de lembranças felizes, sonhos vividos, obstáculos vencidos!

Desta vez, Maria Adelaide confiou-me algumas páginas manuscritas para digitar, parte integrante deste livro. Pérolas!

Eu as trouxe comigo, as pérolas, as páginas, as histórias, um pouco de alma!

Voltei a vê-la, uma vez mais, em uma tarde de sol e céu azul, já refeita da gripe e mais corada e bem disposta. Uma energia divina!

Novamente sentada separando fotos e papéis para o livro.

Desta vez, pediu-me ela para dar um título ao livro e escrever um pequeno testemunho. Privilégio!

Eu, “a nossa brasileirinha” como carinhosamente chama-me Maria Adelaide.

Mas, quem é Maria Adelaide?

Estar a seu lado, ouvir suas histórias, deixar-se envolver por seu doce sorriso, sentir o amor espontâneo e gratuito que inunda o local onde ela está, transborda a nossa alma de paz. Entretanto, ela não foi sempre assim. Construiu prédios sem dinheiro, brigou, se impôs, conquistou o respeito e a admiração de muitos, dentro e fora de Portugal, sempre lutando por uma vida melhor para o seu povo. “Passou a vida a pedir”, mas não para si, e sempre para os outros: para as mãe, para as crianças, para o artesanato, para as mulheres, para os idosos, para toda a gente. Deu tudo o que tinha para a comunidade: seus bens, seu amor, sua vida! Intrigante mulher!

Quem é Maria Adelaide? De onde vem essa força, essa fé, essa coragem? Como uma mulher simples e humilde consegue transformar toda uma região e tocar as nações? Ela mesma explica: “Eu tenho um amigo, que nunca me deixa só. Ele é o meu companheiro de jornada: o meu querido Jesus”. Misteriosa mulher!

Sou um pouco Maria Adelaide. Conheço outras tantas. Creio que existe um pouco de Maria Adelaide em cada uma de nós mulheres!

Não encontrei um melhor título para o livro. Ainda estou a desvendar “Quem é Maria Adelaide”. Entretanto, penso que o escritor do livro de Hebreus a conhece bem, pois no capítulo 13 verso 2 escreveu: “Não vos esqueçais da hospitalidade, porque por ela alguns, não o sabendo, hospedaram anjos”.